segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Os covardes não vão para o céu | Por Tiago Constante

Tiago Constante
O músico multi-instrumentista Paulo Reis nos brinda com "Os covardes não vão para o céu I e II", um álbum duplo, repleto de paisagens sonoras e texturas conduzindo o ouvinte do fundo do abismo ao céu, entre ondas e trens, amores e angústias, quitando seus fardos em vida, assumindo o risco de seguir além, apesar das dificuldades e dúvidas do caminho para gritar bem mais alto que "Os covardes não vão para o céu"

A música "Perdido", faixa de abertura do primeiro Ep, traz a força da juventude dos tempos da Resistência Líquen, sua primeira banda nos anos 90, e anuncia o peso do álbum que está por vir. "Desvio por Jurubatiba", na sua primeira versão, mistura a sutileza dos arranjos de cordas e o peso das guitarras e sintetizadores. "Impossível é ser ninguém", uma balada poética Pós-Punk Hardcore, abre as portas para a grande porrada deste primeiro disco: "A Reza". Quebraceira do início ao fim, forte como uma reza deve ser. Encerrando o primeiro volume, a faixa título do Ep: a profunda, dramática e espetacular "Queda".

Samuel, a música de abertura do segundo Ep e que empresta uma de suas principais frases para dar nome ao disco duplo, mostra a tônica deste álbum: belos arranjos de violões, arcos, sintetizadores e gaita de boca. "Cidades Pequenas Cidades" é uma leitura poética da São Chico de ontem e de hoje através dos trilhos do trem que cortam a cidade, com suas imagens e histórias. Em "Colapsando", angústia e desesperança são ambientadas na estridência do violão, na dureza dos arranjos de arcos e do mellotron. Na folk "Helena", Paulo cria uma bela carta de amor, saudade e esperança. O encaixe perfeito das vozes em "Valsa para Inocência" desenha ausência e perda. A segunda versão de "Desvio por Jurubatiba", realçou a delicadeza do arranjo de cordas substituindo o peso das guitarras pela suavidade do violão e do tamborim. Na instrumental "Pardal", piano e cordas nos levam a um sobrevoo em direção ao mar de "Velhos Mares", uma balada herdeira das de Gilmour, Waters e cia, e que nos põe deslizando até nos perdermos pelas águas que fecham o disco. Por Tiago Constante.


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